quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Bebê de Rosemary (Dir. Roman Polanski) - 1968


Rosemary Woodhouse, interpretada por Mia Farrow, aluga um apartamento com o seu marido e ator, Guy Woodhouse (John Cassavetes) em um famoso prédio de NY, conhecido por, no passado, habitar algumas figuras ilustres da história. Logo no início da trama, somos apresentados a esse jovem casal, que ainda aproveita a vida de recém-casados, sem filhos.
 
Devido a um acidente envolvendo a morte de uma moradora do condomínio é que Rosemary e Guy conhecem seus vizinhos, Minnie e Roman Castevet (Ruth Gordon e Sidney Blackmer), um casal de idosos. A partir daí, o que se nota é uma invasão pertubardora e constante de Minnie e Roman no cotidiano do jovem casal.

Após Repulsa ao Sexo (1965) e A Faca na Água (1962), Roman Polanski nos surpreende ao apresentar uma história em que a normalidade parece operar. Porém a cada minuto do filme, nota-se uma construção de uma trama tão mirabolante quanto envolvente. Após descobrir estar grávida, Rosemary começa a presenciar pequenos episódios que, cada vez mais, despertam sua curiosidade quanto às verdadeiras intenções do simpático casal Castevet.

O que se vê aqui é um terror psicológico, minuciosamente construído. Com uma visão crua, não se enxerga nessa obra qualquer aspecto de violência explícita ou qualquer clichê usado em tantos outros filmes do gênero terror. É ai que Polanski acerta. De maneira gradativa, os acontecimentos sinistros se encaixam criando no espectador um poderoso sentimento de angustia. Isso tudo através de pequenas insinuações.

Vítima de um complô verdadeiramente diabólico, Rosemary se vê presa a uma história inacreditável. Grávida, indefesa e sozinha, ela se rende às vontades do sinistro grupo de amigos de Minnie e Roman, também composto por seu próprio marido, Guy. O final do longa é um dos mais provocantes da história do cinema. A imprevisibilidade impera e Polanski ensina, de maneira única, a como deixar seu público estupefato.

* Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon)

* Download do filme: http://laranjabionica.blogspot.com.br/2011/06/o-bebe-de-rosemary-rosemarys-baby-1968.html

sábado, 19 de maio de 2012

O Céu de Suely (Dir. Karim Ainouz) - 2006

Hermila. Jovem, atraente, mãe, abandonada. Aos 16 anos fugiu para São Paulo com Mateus, aquele que futuramente seria o pai de seu filho. Anos mais tarde, retorna para a sua cidade no Nordeste, com uma criança para criar, sem marido e sem emprego.

Hermila. Um espírito solto, com uma eterna repulsa por tudo aquilo que implica na mesmice. Ela nunca pertenceu aquele lugar, nem nunca pretendeu pertencer. Porém, impulsionada por obrigações maternas, se rende ao cotidiano, mas não por muito tempo.

Suely. Uma personagem criada por Hermila, mas que curiosamente diz mais sobre ela mesma do que seu ego original. Suely se dá, se rifa. Passa pela famosa estrada de Karim Ainouz e deixa um pedaço de seu corpo em cada lugar, atrai o mundo para si mesma, mas um mundo pelo qual ela não se sente atraída.
Quem quer que seja, a personagem busca em lábios estranhos e destinos incertos alguma forma de preencher um vazio deixado por Mateus, de apenas 20 anos. Ela quer ir embora, fugir, para o destino mais longe que seu dinheiro possa pagar. Consegue esse dinheiro através da prostituição exercida por Suely, que vende o corpo mas não quer ser puta. 

Vai embora, incompreendida pela cidade que a cerca, afinal de contas, ela não cabe ali. Com uma chance de recomeçar, larga tudo: filho, avó, tia e João, sempre apaixonado por Hermila.


* Prêmio de Melhor Atriz no Cinema Brazil Grand Prize e Havana Film Festival

* Download:
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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Adeus, Primeiro Amor (Dir. Mia Hansen-Løve) - 2011

O 3º longa de Mia não é sobre o amor. Não é sobre a capacidade que esse sentimento tem de resistir ao tempo ou se uma pessoa pode amar duas outras, ao mesmo tempo, mesmo que de forma diferente. Não é sobre nada disso. É sobre uma menina que se transforma em mulher.

A protagonista, Camille, se envolve em 1999 com Sullivan, aquele que ela acha ser o amor de sua vida, e que talvez realmente seja. Tudo termina quando ele resolve viajar com dois amigos para a América Latina. Mesmo em meio a inúmeras ameaças de Camille, dizendo que iria se matar, ele parte. Inicialmente escreve cartas, mas assim como sua memória de Paris que vai ficando escassa, o amor que ele dizia sentir por Camille também fica, ao ponto de nem mesmo ele saber se realmente jurou à garota seu amor ou se tudo não passou de um sonho.

Camille, esperançosa, aguarda em vão. Passam-se anos e Sullivan não volta. Enquanto ele vai embora da França na tentativa de usufruir de novas experiências, Camille fica. Estagnada, a garota se arrasta pelos anos, pensando nele todos os dias. Quando ela descobre que possui um talento para a arquitetura, começa a ver uma porta de saída para tudo aquilo que lhe sufocava.

Ela se envolve com um dos seus professores da faculdade, Lorenz, um homem mais velho, divorciado, com um filho, estável economicamente, culto, maduro. Tudo aquilo que Sullivan jamais seria um dia. Anos e mais anos se passam, Camille cresce, não apenas como pessoa, mas também como uma profissional. Desenvolve uma relação realmente séria com Lorenz. Mas é visível que sempre carregou consigo as lembranças de Sullivan.

Ele retorna de viagem e se encontra com Camille. Por mais que ela já tivesse se desenvolvido emocionalmente, a sombra de seu primeiro amor sempre permaneceu. Assim, ela ignora a moralidade e trai, talvez por achar que de alguma forma sua relação com Sullivan poderia permanecer e desenvolver.

Quando o rapaz a abandona, novamente através de um carta, Camille ainda sofre. Mas não como antes, afinal ela se transformara. Apesar de ainda chorar pelo amor que sentia por Sullivan, a forma de lidar com esse sentimento não permaneceu o mesmo.

Em seu 3º longa, mais uma vez Mia nos apresenta a um tema já batido nos cinemas, porém, com um ponto de vista totalmente diferente. Em "Tudo Está Perdoado" e "O Pai das Minhas Filhas", as protagonistas, também mulheres, são obrigadas pela vida a passarem por momentos difíceis, como a morte ou a separação. Mas a diferença nessas obras da realizadora, é que ela se preocupa em mostrar a superação e o avanço da feminilidade sobre esses problemas. Em geral, como o tempo e o "luto" são capazes de mudar uma mulher. De torná-la madura, não digo melhor, mas capaz de lidar de forma diferenciada com aquilo que antes as abatia.

Dessa maneira, é que "Adeus, Primeiro Amor" chega a seu fim. Camille vai para um riacho, o qual já havia visitado com Sullivan. Dessa vez, vai sozinha, sem precisar de ninguém para acompanhá-la. Em uma singela sequência, o chapéu que um dia ela ganhara do garoto é carregado pelo vento, caindo no riacho e indo embora. Tudo isso ao som da música de Johnny Flynn com Laura Marling, "The Water", que vai mais ou menos assim:
"The water sustains me without even trying
The water can't drown me, I'm done
With my dying."

*Menção Especial no Festival Internacional de Cinema de Locarno

*Download do filme: ainda não disponível

domingo, 22 de janeiro de 2012

As If I Am Not There (Dir. Juanita Wilson) - 2010

Um retrato sobre a vida que algumas mulheres tiveram durante a Guerra da Bósnia (1992 - 1995). Samira, habitante de Sarajevo, vai para uma pequena vila trabalhar como professora substituta pouco antes da eclosão do conflito. Os homens da vila logo são executados pelos ocupantes, enquanto que as mulheres são levadas para verdadeiros campos de concentração, nos quais pouco a pouco cada uma delas morre, seja psicologicamente ou fisicamente.

Poucas palavras são ditas no filme. Afinal, o que há para se dizer? Os conflitos entre homens são todos os dias desencadeados, e com eles uma enorme massa é afetada. Na obra, trata-se em especial da visão feminina. Em meio à guerra, as mulheres são vistas como meros animais. Não são descartadas como os homens logo no começo, mas sim usadas, abusadas.

Na tentativa de ser mais que um animal é que Samira se valoriza como mulher. Para fugir de todo aquele sofrimento de estupros diários e barbáries, a jovem cria uma personagem capaz de absorver a violência a fim de garantir sua própria sobrevivência, desenvolvendo assim uma relação com o general. Impossível julgar se isso é nobre ou não, ainda mais quando se considera que inúmeras mulheres passaram pela mesma situação. Usaram de sua feminilidade para se protegerem, afinal os "soldados" são apenas homens.

Sem dúvida uma obra comovente de uma realizadora pouco conhecida, Juanita Wilson. Comovente, angustiante, intraduzível.

* Prêmio de Melhor Diretor e Melhor Filme no IFTA Award

* Download do filme: http://btjunkie.org/torrent/As-If-I-Am-Not-There/3039c59109b6b1afe7c1b94101cbbefb77a5e57c6902

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Blue Valentine (Dir. Derek Cianfrance ) - 2010

Um filme sobre o início, meio e fim de uma relação
entre dois jovens, Cindy e Dean, muito bem interpretados por Michelle Williams e Ryan Gosling, respectivamente. Ambos mal se conheciam quando Dean - um romântico incorrigível - resolve se casar com a sua recente paixão, que descobre estar grávida de outro. Movido por motivos nobres ou pelo mero impulso, ele propõe construir uma família com a garota.


Cindy encontra o rapaz na hora que mais precisava, e acaba se casando com alguém que, para ela, poderia ser apenas mais um caso de "uma só noite". Dean não era a pessoa certa no momento certo, ele era apenas a pessoa no momento certo. E Cindy, que em casa nunca teve de fato um apoio familiar, se agarrou a essa possibilidade de segurança através de Dean.

Com o decorrer do filme, nota-se que a sua montagem foi feita mostrando a história do casal
antes e depois do casamento: a construção e a destruição do relacionamento, respectivamente. Após a união dos dois, a ideia do divórcio torna-se uma sombra cada vez maior.

Imagino que muitos que assistiram ao filme tenham se identificado, pois este traz toda uma narrativa - muito realista - do fim de um casamento gerado pela "mera" paixão e impulso juvenil, que se vê demasiadamente desgastado. Esse desgaste é tratado de tal forma no filme que em certo momento o espectador se vê engasgado em sua própria agonia.

Como pode uma esposa não sentir nada pelo marido, sendo que ambos não são casados a tanto tempo assim? Talvez naquela relação o amor nunca tivesse de fato existido. O que havia ali era o respeito, o carinho e, sobretudo, a conveniência. Muitos casamentos se baseiam hoje nesses três fatores, e é impossível dizer se isso é certo ou errado, bom ou ruim.

* Globo de Ouro - indicado nas categorias de Melhor Atriz (Michelle Williams) e Melhor Ator (Ryan Gosling)

* Sundance Film Festival - indicado ao prêmio do Júri.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Antes do Amanhecer (Dir. Richard Linklater) - 1995

É um filme limpo, claro e efêmero. Idealizado por um encontro em que Linklater, o diretor, conheceu uma mulher chamada Amy, enquanto andava pelas ruas de Filadélfia. Apesar de trazer em sua essência tal simplicidade, esta obra não tem nada de simples. Pense. Das pessoas que te cercam, com quantas você poderia realmente passar horas a fio conversando sobre o tudo e o nada, sendo apenas... você? Acho que a ideia de se conectar realmente a alguém é demasiadamente complexa. Ainda mais quando esse outro alguém é um desconhecido.

Fixado por essa premissa é que Linklater nos apresenta à Celine e Jesse, únicos personagens do longa. De forma despretensiosa, os dois se conhecem em um trem e acabam passeando por um dia todo nas ruas de Viena. Ele, um estadunidense desiludido e cínico, e ela, uma francesa cansada de tantos relacionamentos desgastantes. Basicamente esse é o filme. Duas pessoas se encontram, começam a conversar, se conectam, se apaixonam e se amam, por um dia. Simples. Pensando assim, pode ser que seja isso o que a maioria das pessoas procuram durante a vida inteira: simplicidade.

Celine e Jesse se instigam e assim, acabam analisando suas ideias já tão moldadas quanto ao que é felicidade ou o amor, por exemplo. Mas o que aqui se nota, é que de fato os dois são apenas jovens que vagam sem rumo pelo mundo. O filme acaba tratando não só dessas duas pessoas, mas de toda uma geração perdida, desiludida - algo existente na década de 90 e que ainda persiste, se não mais, nos dias atuais.

Construído completamente em cima de diálogos atraentes e inteligentes, o espectador presencia uma grande quantidade de conversas ora leves, ora reflexivas. É interessante como boa parte das pessoas que assistem a obra se identificam com os assuntos ali falados, apesar de parecerem originados de ideias tão individuais. Talvez por isso haja o encanto. É impossível assistir a esse filme e não pensar que seria perfeitamente possível algo assim de fato, acontecer.

Embalado pelas bonitas músicas do longa, o espectador presencia como é grande a beleza existente entre o mínimo espaço que separa duas pessoas. Até onde aquela projeção romântica imaginada pelos dois pode se tornar realidade, considerando que se trata de um encontro com horário para terminar? Ignorando o tempo, Jesse convence Celine a descer do trem sob o argumento de que "é preciso se permitir viajar no tempo, do futuro ao passado, sob a condição de jamais usufruir de oportunidade semelhante novamente".

O que se tira de tudo isso é que a linguagem é a melhor forma para ultrapassar a barreira do desconhecido, em relação ao outro. Aqui, cabe uma leitura valiosa:

“A criação veio da imperfeição. Parece ter vindo de um anseio e de uma frustração. É daí, eu acho , que veio a linguagem: do nosso desejo de transcender o nosso isolamento e de estabelecer ligações uns com os outros. Devia ser fácil quando era apenas uma questão de mera sobrevivência. Mas fica realmente interessante, quando usamos esse mesmo sistema de símbolos para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos.. (…) As palavras são inertes, apenas símbolos. Estão mortas. E tanto da nossa experiência é intangível. Tanto do que percebemos é inexprimível. É indizível. E ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros e sentimos ter feito alguma ligação e termos sido compreendidos, acho que temos uma sensação quase como uma comunhão espiritual. Essa sensação pode ser transitória, mas é para isso que vivemos”.


É um filme sobre ir, sem saber para aonde.



* Prêmio de Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema de Berlim

* Download do filme: http://www.megaupload.com/?d=52JWSXU9

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Abismo Prateado (Dir. Karim Aïnouz) - 2011

Existem filmes que te tocam. Apesar de não terem
absolutamente nada de mais, apesar de terem uma premissa simples e nada de efeitos especiais. O Abismo Prateado é assim.

Uma dentista, Violeta, recebe uma mensagem em sua caixa postal do celular de Djalma, com quem é casada a 14 anos. Ele quer se separar por se sentir sufocado ao lado de Violeta e por não amá-la mais. Ainda, Djalma pede que Violeta não o procure, e como é de costume, ela obedeceu.

Casada com Djalma desde os 22 anos de idade, e com um filho de 14 anos, Violeta se vê lançada a um abismo. O que há aqui é uma total perda de referencial. Ela é deixada à deriva, e não tem a mínima idéia de como lidar com isso.

Com o abandono, a protagonista passa a ver tudo de uma forma diferente. Ela mesma se torna diferente. Uma mulher tão inteira vai se desfazendo ao vagar sem rumo por uma cidade na qual antes ela se encontrava tão facilmente, mas que agora simplesmente já não sabe mais para onde ir. "Qualquer lugar" parece bastar.

Violeta tenta achar alguma forma de preencher-se. No começo do filme, a dentista recomendou a uma paciente que esta tomasse bastante sorvete, pois a mesma havia acabado de extrair um dente e o sorvete tem esse poderoso poder de "fazer a gente sorrir e tirar a dor".

E é isso que a protagonista faz. Tenta encontrar em sua jornada algum tipo de coisa que a deixe feliz e que tire a sua dor. Considera a opção de pegar um avião e ir atrás de Djalma, se embebeda, dança loucamente e se conecta a uma família de desabrigados, com os quais cria uma relação de delicadeza única.

Não se sabe o por que, mas essa família é o sorvete de Violeta. Faz ela esquecer um pouco da rejeição que acabou de sofrer, lembrando-a que existem coisas além daquela vida que ela teve com seu marido. Mas, como todo sorvete que derrete na boca, a alegria que ela sente com essa família também acaba quando o pai e a menina vão embora. E, apesar de ter sido um encontro tão efêmero, essa partida dói mais no espectador até mesmo do que a partida de Djalma.

Explicitamente baseado na canção "Olhos nos Olhos" de Chico Buarque, o filme é basicamente isso: uma mulher que após tantos anos acostumada com uma vida a dois se vê jogada a um abismo, sem orientação, sem nem mesmo saber o por que. Ela encontra um pouco de alegria, mesmo tão transitória e nisso vê que pode seguir a vida e encontrar outras pessoas que a amem mais e melhor que Djalma, e quem sabe assim, se refazer.

* Quinzena dos Realizadores de Cannes/2011

* Download do filme: Ainda não disponível