sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Abismo Prateado (Dir. Karim Aïnouz) - 2011

Existem filmes que te tocam. Apesar de não terem
absolutamente nada de mais, apesar de terem uma premissa simples e nada de efeitos especiais. O Abismo Prateado é assim.

Uma dentista, Violeta, recebe uma mensagem em sua caixa postal do celular de Djalma, com quem é casada a 14 anos. Ele quer se separar por se sentir sufocado ao lado de Violeta e por não amá-la mais. Ainda, Djalma pede que Violeta não o procure, e como é de costume, ela obedeceu.

Casada com Djalma desde os 22 anos de idade, e com um filho de 14 anos, Violeta se vê lançada a um abismo. O que há aqui é uma total perda de referencial. Ela é deixada à deriva, e não tem a mínima idéia de como lidar com isso.

Com o abandono, a protagonista passa a ver tudo de uma forma diferente. Ela mesma se torna diferente. Uma mulher tão inteira vai se desfazendo ao vagar sem rumo por uma cidade na qual antes ela se encontrava tão facilmente, mas que agora simplesmente já não sabe mais para onde ir. "Qualquer lugar" parece bastar.

Violeta tenta achar alguma forma de preencher-se. No começo do filme, a dentista recomendou a uma paciente que esta tomasse bastante sorvete, pois a mesma havia acabado de extrair um dente e o sorvete tem esse poderoso poder de "fazer a gente sorrir e tirar a dor".

E é isso que a protagonista faz. Tenta encontrar em sua jornada algum tipo de coisa que a deixe feliz e que tire a sua dor. Considera a opção de pegar um avião e ir atrás de Djalma, se embebeda, dança loucamente e se conecta a uma família de desabrigados, com os quais cria uma relação de delicadeza única.

Não se sabe o por que, mas essa família é o sorvete de Violeta. Faz ela esquecer um pouco da rejeição que acabou de sofrer, lembrando-a que existem coisas além daquela vida que ela teve com seu marido. Mas, como todo sorvete que derrete na boca, a alegria que ela sente com essa família também acaba quando o pai e a menina vão embora. E, apesar de ter sido um encontro tão efêmero, essa partida dói mais no espectador até mesmo do que a partida de Djalma.

Explicitamente baseado na canção "Olhos nos Olhos" de Chico Buarque, o filme é basicamente isso: uma mulher que após tantos anos acostumada com uma vida a dois se vê jogada a um abismo, sem orientação, sem nem mesmo saber o por que. Ela encontra um pouco de alegria, mesmo tão transitória e nisso vê que pode seguir a vida e encontrar outras pessoas que a amem mais e melhor que Djalma, e quem sabe assim, se refazer.

* Quinzena dos Realizadores de Cannes/2011

* Download do filme: Ainda não disponível