quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Antes do Amanhecer (Dir. Richard Linklater) - 1995

É um filme limpo, claro e efêmero. Idealizado por um encontro em que Linklater, o diretor, conheceu uma mulher chamada Amy, enquanto andava pelas ruas de Filadélfia. Apesar de trazer em sua essência tal simplicidade, esta obra não tem nada de simples. Pense. Das pessoas que te cercam, com quantas você poderia realmente passar horas a fio conversando sobre o tudo e o nada, sendo apenas... você? Acho que a ideia de se conectar realmente a alguém é demasiadamente complexa. Ainda mais quando esse outro alguém é um desconhecido.

Fixado por essa premissa é que Linklater nos apresenta à Celine e Jesse, únicos personagens do longa. De forma despretensiosa, os dois se conhecem em um trem e acabam passeando por um dia todo nas ruas de Viena. Ele, um estadunidense desiludido e cínico, e ela, uma francesa cansada de tantos relacionamentos desgastantes. Basicamente esse é o filme. Duas pessoas se encontram, começam a conversar, se conectam, se apaixonam e se amam, por um dia. Simples. Pensando assim, pode ser que seja isso o que a maioria das pessoas procuram durante a vida inteira: simplicidade.

Celine e Jesse se instigam e assim, acabam analisando suas ideias já tão moldadas quanto ao que é felicidade ou o amor, por exemplo. Mas o que aqui se nota, é que de fato os dois são apenas jovens que vagam sem rumo pelo mundo. O filme acaba tratando não só dessas duas pessoas, mas de toda uma geração perdida, desiludida - algo existente na década de 90 e que ainda persiste, se não mais, nos dias atuais.

Construído completamente em cima de diálogos atraentes e inteligentes, o espectador presencia uma grande quantidade de conversas ora leves, ora reflexivas. É interessante como boa parte das pessoas que assistem a obra se identificam com os assuntos ali falados, apesar de parecerem originados de ideias tão individuais. Talvez por isso haja o encanto. É impossível assistir a esse filme e não pensar que seria perfeitamente possível algo assim de fato, acontecer.

Embalado pelas bonitas músicas do longa, o espectador presencia como é grande a beleza existente entre o mínimo espaço que separa duas pessoas. Até onde aquela projeção romântica imaginada pelos dois pode se tornar realidade, considerando que se trata de um encontro com horário para terminar? Ignorando o tempo, Jesse convence Celine a descer do trem sob o argumento de que "é preciso se permitir viajar no tempo, do futuro ao passado, sob a condição de jamais usufruir de oportunidade semelhante novamente".

O que se tira de tudo isso é que a linguagem é a melhor forma para ultrapassar a barreira do desconhecido, em relação ao outro. Aqui, cabe uma leitura valiosa:

“A criação veio da imperfeição. Parece ter vindo de um anseio e de uma frustração. É daí, eu acho , que veio a linguagem: do nosso desejo de transcender o nosso isolamento e de estabelecer ligações uns com os outros. Devia ser fácil quando era apenas uma questão de mera sobrevivência. Mas fica realmente interessante, quando usamos esse mesmo sistema de símbolos para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos.. (…) As palavras são inertes, apenas símbolos. Estão mortas. E tanto da nossa experiência é intangível. Tanto do que percebemos é inexprimível. É indizível. E ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros e sentimos ter feito alguma ligação e termos sido compreendidos, acho que temos uma sensação quase como uma comunhão espiritual. Essa sensação pode ser transitória, mas é para isso que vivemos”.


É um filme sobre ir, sem saber para aonde.



* Prêmio de Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema de Berlim

* Download do filme: http://www.megaupload.com/?d=52JWSXU9