terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Floresta dos Lamentos (Dir. Naomi Kawase) - 2007

Naomi Kawase é a pessoa mais nova a ganhar o prêmio Caméra d'Or, em Cannes (1997), pela obra "Moe no Suzaku". "A Floresta dos Lamentos" deu à ela o Grand Prix (Cannes) em 2007. Premiações a parte, Kawase é uma das grandes diretoras do cinema atual. Em suas obras, busca explorar a simplicidade temática, como a busca pelo seu pai ("Embracing"), a avó que a criou ("Katatsumori") e a história fictícia da obra em questão, na qual uma enfermeira, Machiko, em luto pelo seu filho, cria uma relação especial com o idoso Shigeki, que busca na floresta algum tipo de conexão com sua falecida esposa, Mako.

Logo no início, nota-se a demência portada pelo idoso. Sempre com um olhar fixo, Shigeki parece manter em sua cabeça um único pensamento: Mako. Sua relação com a enfermeira, a primeira vista, é marcada por pequenos conflitos. Mas logo surge entre os dois uma ponta de afeição, o que é mostrado na cativante cena em que ambos brincam na plantação do asilo.

No dia do aniversário de Shigeki, Machiko resolve levá-lo para um passeio de carro. No caminho, o carro estraga, o que permite que os protagonistas continuem o passeio a pé. A seguir, o que se vê é uma gradual construção da relação entre as personagens: há a troca (cena em que um dá um pedaço de melancia para o outro), o consolo (quando Shigeki abraça a enfermeira, desesperada por ter revivido uma situação semelhante na qual perdeu seu filho) e a total entrega (quando Machiko se despe para esquentar o idoso que treme de frio).

Através dessas cenas, Kawase firma entre a enfermeira e o idoso uma relação marcada por um mesmo fim: a satisfação do sentimento de luto. Shigeki desprende uma incansável busca na floresta afim de, em algum lugar por ali, conectar-se à sua amada. Em vários pontos, acredita estar em contato com o espírito de Mako. Machiko, por outro lado, continua sofrendo constantemente a ausência de seu filho, e a consequente destruição de sua família.

A floresta torna-se para ambos um lugar para despejar suas lágrimas, frustrações, medos, desejos e lamentos. O título original do longa é "Mogari no Mori", sendo que "Mogari", como explicado no final da obra, significa algo como "final do luto". E é justamente isso que é tratado no filme. Em meio a floresta (retratada de forma semelhante ao modelo de Apichatpong Weerasethakul), Shigeki e Machiko chegam ao fim de um longo processo de luto.

A beleza na obra de Kawase permanece não apenas na montagem da relação entre o idoso e a jovem, que carregam em comum o fardo da perda, mas também na forma pela qual cada uma das personagens consegue viver em paz com esse sentimento; na forma como cada um chega ao final do seu luto. Shigeki se entrega à terra, à Mako, à morte; Machiko encontra a aparentemente inalcançável paz existente na perda.

A cena final do longa é com certeza a mais tocante da obra, se não, a mais tocante da filmografia da realizadora. A jovem roda a caixinha de música, buscando através do som o até então perdido contato com seu filho. Enquanto o idoso finaliza seu luto através da morte, Machiko o faz reencontrando a vida.

* Vencedor do Grande Prêmio de Cannes

* Download do filme: www.superdownloadsfull.com/filmes/mogari-no-mori-a-floresta-dos-lamentos-dvdrip-mega

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eternamente Sua (Dir. Apichatpong Weerasethakul) - 2002

Apichatpong, ou Joe (como prefere ser chamado) é com certeza um dos expoentes mais singulares do cinema oriental contemporâneo. Suas obras são consideradas pela crítica mundial como "acriticáveis", devido a estranheza particular contida em seus filmes.

"Eternamente Sua", obra vencedora do prêmio Un Certain Regard em Cannes, é um filme sensorial, explorando especialmente o tato, a audição e o paladar. Explora o tato em cenas como aquela em que a formiga pica Roong; quando Ong e Roong passam o peculiar creme na pele de Min para aliviar sua dor; as cenas prolongadas que mostram as relações sexuais. Há o paladar, no momento em que o jovem casal realiza a refeição no pique-nique; quando o casal de velhos degusta frutas após o coito. Audição, marca registrada no cinema apichatponguiano, através dos sons da mata que, de certa forma, marcam o ritmo da obra.

Diz-se que o filme conta com certa "estranheza particular", pois é árduo encontrar em outras obras ou diretores aspectos que talvez pudessem ter inspirado Joe em sua direção. O crítico Ruy Gardnier arrisca dizer que o tratamento dado ao tempo em "Eternamente Sua" remete um pouco às obras "Empire State" e "Sleep" de Andy Warhol, devido às "radicais experiências temporais" do filme. Mas, talvez, tamanha particularidade desse tailandês seja oriunda do fato de o mesmo, além de cineasta, também ser artista plástico. Tal fato apenas nos reforça no momento de dizer que os filmes de Joe não são apenas obras, mas verdadeiras obras-primas.

Ainda, arrisco a dizer que talvez a inovação contemporânea trazida pelo cinema de Joe, deva-se, em partes, à própria simplicidade das histórias que são minimamente narradas nas suas obras. Sim, talvez seja isso, talvez seja a "minimização narrativa" que traz a esses filmes tamanha carga hipnótica, encantando o público, através de planos fixos e uma fotografia essencialmente coordenada pela própria natureza. Sem dúvidas, Joe desfruta de um pouco de sorte ao realizar as suas produções, tendo o privilégio de contar com a dose exata de luz do sol nos momentos certos de seus filmes, sol este que também é um dos protagonistas de suas obras.

Mas, além de Roong, Min, Ong e o sol, um dos grandes protagonistas de "Eternamente Sua" é o tempo. Aqui, Joe elabora um rico meio pelo qual o tempo passa de forma equitativa para os personagens e o próprio público. Ou seja, o público tem a nítida impressão de realmente ter, por exemplo, percorrido todo o trajeto até a floresta com o casal, devido a fidelidade dos cortes das cenas em relação ao tempo.

Como não poderia deixar de ser, o lado explorado do tempo nas obras apichatponguianas é justamente a sua efemeridade, a sua passagem. São inúmeras as referências no filme quanto a essa efemeridade: a condição de imigrante de Min (remetendo ao fato de que sua estadia na Tailândia é temporária), o rio correndo (e constantemente se renovando) e o próprio passeio feito pelo casal (elucidando o fato de que nem sempre a efemeridade é boa, pois faz com que momentos agradáveis tenham, de fato, um fim).

A lágrima quase imperceptível que percorre o jovial rosto de Roong no final do filme, reforça a idéia de passagem. E, ainda, lamenta o fato de que coisas, aparentemente eternas em sua duração, certa hora cheguem ao fim, como ocorre com o próprio casal, Roong e Min. Eles, apesar de desfrutarem daquela, aparentemente eterna, tarde de amor, tem seus caminhos separados por outras circunstâncias, também efêmeras.

* Vencedor do Prêmio Un Certain Regard, Cannes.

*Download do filme: laranjapsicodelica.blogspot.com/2011/06/eternamente-sua-2002.html