segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Nevoeiro (Dir. Frank Darabont) - 2007

Realizado por Frank Darabont (À Espera de Um Milagre e Um Sonho de Liberdade), O Nevoeiro nos apresenta a uma realidade na qual uma misteriosa névoa envolve toda uma pequena cidade nos EUA, trazendo consigo criaturas que lembram insetos gigantes, no mais belo estilo dos adorados filmes B.

Seguindo a linha de raciocínio de Romero em seus filmes de zumbi, essa obra usa um contexto fantástico a fim de exaltar as relações humanas em situações insólitas. Fazer o espectador se transportar para a situação filmada e imaginar o que faria se estivesse naquele lugar é uma das intenções do diretor.
Em um só cenário, Darabont reúne os vários estereótipos existentes em uma sociedade: a
fanática religiosa, o bom pai de família, o ignorante, o cético, os militares etc. Dessa forma, criam-se inúmeros choques ideológicos enquanto os personagens tentam escapar daquela situação desoladora

A medida que a trama se desenvolve (baseada na obra de Stephen King), aos poucos as personagens se revelam, sendo que cada uma delas é uma protagonista. Darabont cria seu próprio microcosmo da sociedade norte-americana, colocando-o diante do medo. Basicamente, o filme retrata uma nação temerosa.

Uma das críticas que se tira desse filme é em relação à natureza humana: as pessoas são boas à medida que tem conforto, alimento e proteção. Coloque-as em uma situação de desespero para descobrir a verdadeira natureza de cada um. O maior inimigo do filme passa a ser o próprio ser humano, e não o nevoeiro em si. Ele apenas instiga a revelação de algo que sempre existiu: em uma situação de desespero, o que importa é achar uma resposta/solução, mesmo que essa não seja a certa.

Sem dúvida alguma, essa obra traz um dos finais mais angustiantes da história do cinema, sendo diferente do final feito por Stephen King. É um daqueles filmes que as pessoas veem uma vez e, apesar de terem gostado, não se arriscam a ver de novo.

* Prêmio de Melhor Filme pela Academia de Filmes de Ficção, Fantasia e Terror

* Download do filme: filmeshunter.com/suspense/o-nevoeiro-the-mist/


sábado, 22 de outubro de 2011

Desencanto (Dir. David Lean) - 1945

"Desencanto", título original "Brief Encounter", é um romance britânico realizado por David Lean, autor de vários outros clássicos como "Lawrence da Arábia", "Doutor Jivago" e "A Ponte do Rio Kwai". É estrelado por Celia Johnson e o iniciante Trevor Howard, ambos impecáveis em seus respectivos papéis de Laura Jesson e Dr. Alec Harvey.

Laura e Alec, pessoas comuns, são protagonistas de uma história de amor proibida, já que cada um possui uma família e é comprometido com outra pessoa, tendo filhos e uma vida já formada. Iniciado de uma forma inocente - Alec tira um cisco do olho de Celia - em uma das tardes de quinta-feira, o romance é desencadeado na medida em que uma vez por semana os protagonistas se encontram e tem a oportunidade de se conhecer melhor.

Tal obra cinematográfica é capaz de nos despertar para dois vértices: aquele no qual um belo romance nasce, porém nunca se realiza devido a impedimentos externos; ou a realidade na qual essas duas pessoas tão comuns e moralmente corretas, se veem como adúlteras.

É interessante notar que os impedimentos do desenvolvimento dessa paixão não são em momento algum do filme, colocados de uma forma maquiavélica. Pelo contrário. Celia nunca escondeu o carinho que tem por Fred, seu marido, uma pessoa tão bondosa e carinhosa com ela, um ótimo amigo, mas com o qual nunca poderia compartilhar da sua aventura. Alec, da mesma forma, demonstra admiração por sua esposa.

A fotografia do filme, feita por Robert Krasker, nos impele a captar o constante conflito que aflige cada uma das personagens, Celia principalmente. Entregar-se ou não a essa loucura? Ela, uma dona de casa tão convencional e até então, tão feliz com o seu casamento, poderia algum dia render-se ao amor, à paixão, que sentia por Alec? A protagonista mesmo reconhece achar que coisas assim nunca aconteciam com pessoas comuns.

Da mesma forma que cresce nos personagens uma agonia, esta cresce também no espectador. Não existe nessa obra um caminho certo ou um errado. Como avaliar as atitudes desses dois apaixonados, que até então achavam que tinham tudo, que tinham todo o amor que necessitavam? É difícil julgá-los, e isso traz a quem assiste a obra certa sensação de perda de senso, aos moralistas especialmente.

Talvez, justifica-se daí o título da obra. Pois, esta nos revela um processo de total desencanto. Desencanto, pois, iniciamos o filme tendo certa impressão quanto aos dois personagens. Duas pessoas corretas, incapazes de trair, incapazes de fazerem mal à pessoa que amam, incapazes de largarem os filhos para viverem, egoisticamente (?) um romance. Com o andar do filme, nos desencantamos com as personagens, mas nem mesmo por isso desejamos algum mal a elas. Stephen Lynn, interpretado por Valentine Dyall, demonstra bem essa sensação de desapontamento, ao flagrar Alec escondendo furtivamente sua amante, e isso era algo que nem mesmo o seu amigo, tão próximo, esperava.

Ainda é estranho tratar Laura ou Alec como "amantes". Querendo ou não, tal palavra carrega consigo um tom demasiadamente pejorativo. E algo tão belo como o que presenciamos no filme não merece qualquer carga desmerecedora.

É admirável como um filme é capaz de tirar o espectador de sua zona de conforto, e questioná-lo quanto à ideias que para ele já são vistas como dogmas. É delicado e desconfortável pensar que talvez, nem sempre, a infidelidade é nefasta. Pois vemos nessa obra como algo belo nasce mesmo quando não estamos buscando, mesmo quando não queremos. E a moral nada tem a ver com isso. É o amor por si só que se deixa demonstrar.


* Grand Prize de Cannes

* Download do filme: 4shared.com/file/111429041/26711417/brief_encounter_1945_xvid___wunseedee__3818523tpb.html