quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eternamente Sua (Dir. Apichatpong Weerasethakul) - 2002

Apichatpong, ou Joe (como prefere ser chamado) é com certeza um dos expoentes mais singulares do cinema oriental contemporâneo. Suas obras são consideradas pela crítica mundial como "acriticáveis", devido a estranheza particular contida em seus filmes.

"Eternamente Sua", obra vencedora do prêmio Un Certain Regard em Cannes, é um filme sensorial, explorando especialmente o tato, a audição e o paladar. Explora o tato em cenas como aquela em que a formiga pica Roong; quando Ong e Roong passam o peculiar creme na pele de Min para aliviar sua dor; as cenas prolongadas que mostram as relações sexuais. Há o paladar, no momento em que o jovem casal realiza a refeição no pique-nique; quando o casal de velhos degusta frutas após o coito. Audição, marca registrada no cinema apichatponguiano, através dos sons da mata que, de certa forma, marcam o ritmo da obra.

Diz-se que o filme conta com certa "estranheza particular", pois é árduo encontrar em outras obras ou diretores aspectos que talvez pudessem ter inspirado Joe em sua direção. O crítico Ruy Gardnier arrisca dizer que o tratamento dado ao tempo em "Eternamente Sua" remete um pouco às obras "Empire State" e "Sleep" de Andy Warhol, devido às "radicais experiências temporais" do filme. Mas, talvez, tamanha particularidade desse tailandês seja oriunda do fato de o mesmo, além de cineasta, também ser artista plástico. Tal fato apenas nos reforça no momento de dizer que os filmes de Joe não são apenas obras, mas verdadeiras obras-primas.

Ainda, arrisco a dizer que talvez a inovação contemporânea trazida pelo cinema de Joe, deva-se, em partes, à própria simplicidade das histórias que são minimamente narradas nas suas obras. Sim, talvez seja isso, talvez seja a "minimização narrativa" que traz a esses filmes tamanha carga hipnótica, encantando o público, através de planos fixos e uma fotografia essencialmente coordenada pela própria natureza. Sem dúvidas, Joe desfruta de um pouco de sorte ao realizar as suas produções, tendo o privilégio de contar com a dose exata de luz do sol nos momentos certos de seus filmes, sol este que também é um dos protagonistas de suas obras.

Mas, além de Roong, Min, Ong e o sol, um dos grandes protagonistas de "Eternamente Sua" é o tempo. Aqui, Joe elabora um rico meio pelo qual o tempo passa de forma equitativa para os personagens e o próprio público. Ou seja, o público tem a nítida impressão de realmente ter, por exemplo, percorrido todo o trajeto até a floresta com o casal, devido a fidelidade dos cortes das cenas em relação ao tempo.

Como não poderia deixar de ser, o lado explorado do tempo nas obras apichatponguianas é justamente a sua efemeridade, a sua passagem. São inúmeras as referências no filme quanto a essa efemeridade: a condição de imigrante de Min (remetendo ao fato de que sua estadia na Tailândia é temporária), o rio correndo (e constantemente se renovando) e o próprio passeio feito pelo casal (elucidando o fato de que nem sempre a efemeridade é boa, pois faz com que momentos agradáveis tenham, de fato, um fim).

A lágrima quase imperceptível que percorre o jovial rosto de Roong no final do filme, reforça a idéia de passagem. E, ainda, lamenta o fato de que coisas, aparentemente eternas em sua duração, certa hora cheguem ao fim, como ocorre com o próprio casal, Roong e Min. Eles, apesar de desfrutarem daquela, aparentemente eterna, tarde de amor, tem seus caminhos separados por outras circunstâncias, também efêmeras.

* Vencedor do Prêmio Un Certain Regard, Cannes.

*Download do filme: laranjapsicodelica.blogspot.com/2011/06/eternamente-sua-2002.html

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