sábado, 22 de outubro de 2011

Desencanto (Dir. David Lean) - 1945

"Desencanto", título original "Brief Encounter", é um romance britânico realizado por David Lean, autor de vários outros clássicos como "Lawrence da Arábia", "Doutor Jivago" e "A Ponte do Rio Kwai". É estrelado por Celia Johnson e o iniciante Trevor Howard, ambos impecáveis em seus respectivos papéis de Laura Jesson e Dr. Alec Harvey.

Laura e Alec, pessoas comuns, são protagonistas de uma história de amor proibida, já que cada um possui uma família e é comprometido com outra pessoa, tendo filhos e uma vida já formada. Iniciado de uma forma inocente - Alec tira um cisco do olho de Celia - em uma das tardes de quinta-feira, o romance é desencadeado na medida em que uma vez por semana os protagonistas se encontram e tem a oportunidade de se conhecer melhor.

Tal obra cinematográfica é capaz de nos despertar para dois vértices: aquele no qual um belo romance nasce, porém nunca se realiza devido a impedimentos externos; ou a realidade na qual essas duas pessoas tão comuns e moralmente corretas, se veem como adúlteras.

É interessante notar que os impedimentos do desenvolvimento dessa paixão não são em momento algum do filme, colocados de uma forma maquiavélica. Pelo contrário. Celia nunca escondeu o carinho que tem por Fred, seu marido, uma pessoa tão bondosa e carinhosa com ela, um ótimo amigo, mas com o qual nunca poderia compartilhar da sua aventura. Alec, da mesma forma, demonstra admiração por sua esposa.

A fotografia do filme, feita por Robert Krasker, nos impele a captar o constante conflito que aflige cada uma das personagens, Celia principalmente. Entregar-se ou não a essa loucura? Ela, uma dona de casa tão convencional e até então, tão feliz com o seu casamento, poderia algum dia render-se ao amor, à paixão, que sentia por Alec? A protagonista mesmo reconhece achar que coisas assim nunca aconteciam com pessoas comuns.

Da mesma forma que cresce nos personagens uma agonia, esta cresce também no espectador. Não existe nessa obra um caminho certo ou um errado. Como avaliar as atitudes desses dois apaixonados, que até então achavam que tinham tudo, que tinham todo o amor que necessitavam? É difícil julgá-los, e isso traz a quem assiste a obra certa sensação de perda de senso, aos moralistas especialmente.

Talvez, justifica-se daí o título da obra. Pois, esta nos revela um processo de total desencanto. Desencanto, pois, iniciamos o filme tendo certa impressão quanto aos dois personagens. Duas pessoas corretas, incapazes de trair, incapazes de fazerem mal à pessoa que amam, incapazes de largarem os filhos para viverem, egoisticamente (?) um romance. Com o andar do filme, nos desencantamos com as personagens, mas nem mesmo por isso desejamos algum mal a elas. Stephen Lynn, interpretado por Valentine Dyall, demonstra bem essa sensação de desapontamento, ao flagrar Alec escondendo furtivamente sua amante, e isso era algo que nem mesmo o seu amigo, tão próximo, esperava.

Ainda é estranho tratar Laura ou Alec como "amantes". Querendo ou não, tal palavra carrega consigo um tom demasiadamente pejorativo. E algo tão belo como o que presenciamos no filme não merece qualquer carga desmerecedora.

É admirável como um filme é capaz de tirar o espectador de sua zona de conforto, e questioná-lo quanto à ideias que para ele já são vistas como dogmas. É delicado e desconfortável pensar que talvez, nem sempre, a infidelidade é nefasta. Pois vemos nessa obra como algo belo nasce mesmo quando não estamos buscando, mesmo quando não queremos. E a moral nada tem a ver com isso. É o amor por si só que se deixa demonstrar.


* Grand Prize de Cannes

* Download do filme: 4shared.com/file/111429041/26711417/brief_encounter_1945_xvid___wunseedee__3818523tpb.html

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