quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Enigma de Kaspar Hauser (Dir. Werner Herzog) - 1974

O Enigma de Kaspar Hauser, filme considerado por muitos como a obra-prima do renomado diretor Werner Herzog, conta a chocante história de um rapaz abandonado em praça pública, em meados de 1828 em Nuremberg. Kaspar Hauser, como mais tarde ficaria conhecido, viveu durante um longo período em uma caverna, na qual não tinha contato com a natureza ou outros seres vivos. Incapaz de andar e falar (o rapaz pronunciava poucas palavras e frases como "cavalo" e "lembre-se disso"), foi deixado com uma carta em sua mão por seu "pai", no centro da cidade.
A partir de então, Kaspar passará por um processo de ajustamento social, onde deverá aprender desde os preceitos mais básicos (como se portar à mesa) até os mais complexos (como a lógica e a religião). É interessante notar que assim como o ator Klaus Kinski (Aguirre: A Cólera Dos Deuses, Fitzcarraldo, entre outros),
Bruno S. (Kaspar Hauser) formou com Werner Herzog uma frutífera parceria, porém efêmera. Alguns afirmam que O Enigma de Kaspar Hauser, assim como Stroszek, ambos estrelados por Bruno S., tentam explicar um pouco da personalidade desse peculiar ator, que aos 3 anos de idade foi erroneamente internado por ter uma suposta doença mental, ficando na instituição até os seus 30 anos. Posteriormente, foi diagnosticado com esquizofrenia, decorrente desse período de internação.
Em uma interessante análise, o crítico Rodrigo de Oliveira relata que Herzog enxergava em Bruno S., durante as gravações, uma postura de estranhamento, mas não em relação ao set ou à equipe de filmagem, mas sim em relação às convivências humanas. Talvez por isso, seja Bruno S. o único capaz de interpretar de forma íntegra Kaspar Hauser: os dois percebiam a sociedade com um olhar exterior; não compreendiam as convenções e dificilmente aceitavam dogmas simplesmente pelo fato de serem verdades absolutas.
Em um momento delicado do filme, Kaspar incomoda a Igreja dizendo que antes de entender ou aceitar a religião, deveria aprender coisas como ler e escrever, para só assim poder compreender alguma outra matéria. Logo, ao exigir um conhecimento anterior à fé, o rapaz consegue definir a questão divina como apenas mais uma criação do homem. Em vários momentos do filme, ele afirma se sentir vazio, e até mesmo, que preferia sua vida quando preso em uma caverna. Porém, é através da arte que ele encontra um preenchimento, até então não conquistado por meio de sua introdução à ciência, lógica ou religião.
Ainda, os laços afetivos que estabelece com a comunidade que o "cria" são capazes de fazê-lo sentir, de fato, um homem (como na cena em que ele
pega o bebê em seu colo, emocionando-se). Em momento algum do filme é possível desvendar o verdadeiro enigma da personagem. Erroneamente, as autoridades locais acreditam que o fato de Kaspar possuir o lado esquerdo do cérebro atrofiado ou o fígado largo, poderia explicar alguma coisa sobre a natureza do rapaz. Mas não.

O verdadeiro enigma de Kaspar Hauser transcende a explicação lógica ou científica. Seria o homem de fato um homem, mesmo se não inserido no mundo social? Poderia Kaspar algum dia sê-lo? Ou seria apenas uma aberração de circo? Herzog mostra que as respostas dessas questões são dispensáveis, já que os laços afetivos criados pelo rapaz são capazes de atravessar a questão daquilo que é socialmente aceito.

Kaspar Hauser era apenas um rapaz, criado até os seus 17 anos em uma caverna e sem noção alguma do significado das palavras "afeto" e "sonho", porém que consegue, através da sua vida mundana, estabelecer parâmetros para realizar viagens oníricas e encantar todos aqueles que com ele se importam, como quando conta uma história sem fim.

* 6 prêmios e 1 indicação, dentre eles o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio do Júri Ecumênico, no Festival de Cannes de 1975.


Download do filme: www.laranjapsicodelica.blogspot.com/2010/05/o-enigma-de-kaspar-hauser-1974.html




















4 comentários:

  1. muito bom, bruna! até vou pegar pra ver :D

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  2. Obrigada Elias! É um ótimo filme, vale a pena ver, acho que você vai gostar!

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  3. A crítica ficou muito boa Bruna, parabéns! O filme é muito bom, apesar de ser um poquinhoooo cansativo usaushuas

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